O estado de recuperação judicial da empresa, por si só, não pode impedir sua participação em licitação, nem a celebração de um contrato administrativo, desde que fique demonstrada sua capacidade econômica para executar o serviço.
Com esse entendimento, a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou provimento a um recurso especial da Universidade Federal do Cariri (UFCA), que tentava substituir a construtora vencedora da licitação aberta em 2014 para obras no campus. O processo foi julgado em 16 de agosto e o acórdão, publicado no último dia 5.
Inicialmente, a reitoria da universidade se recusou a assinar o contrato porque havia no edital da licitação a previsão de comprovação, pelas participantes, da boa situação financeira como forma de assumir o objeto do futuro contrato. Isso excluiria aquelas em recuperação judicial.
A construtora, então, impetrou mandado de segurança e obteve decisão favorável. O Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) manteve a posição por considerar que o edital não poderia ir além do texto da lei para restringir o direito de participar do certame.
O artigo 31 da Lei de Licitação e Contratos (Lei 8.666/1993) lista a documentação necessária para a qualificação econômico-financeira das participantes, e o seu inciso II exige certidão negativa de falência ou concordata.
A jurisprudência do STJ se firmou no sentido de que essa exigência não se aplica para a certidão negativa de recuperação judicial. E que, em vez disso, deve ser relativizada para permitir que a recuperanda participe do certame, desde que demonstre sua viabilidade econômica.
Com base nesse cenário, a 2ª Turma concluiu que o fato de a vencedora da licitação estar em recuperação judicial, por si só, não pode impedir a celebração do contrato, desde que ela demonstre sua capacidade econômica para executar o serviço.
A posição foi apresentada em voto do ministro Mauro Campbell, secundada por voto do ministro Herman Benjamin e incorporada pelo relator, ministro Francisco Falcão. Com isso, a votação se deu por unanimidade.
“Não cabe à administração pública realizar interpretação extensiva da Lei de Licitações em vigor no caso concreto para restringir direitos, à luz do princípio da legalidade”, concluiu o ministro Mauro Campbell, para quem não caberia ao STJ rever as provas e a conclusão de que a empresa possui a capacidade financeira para executar as obras.
Com informações da Conjur