Um sonho, que brotou embaixo de uma árvore de Juá, foi o guia para a desembargadora Zeneide Bezerra, hoje com 44 anos de magistratura, traçar seu rumo, em uma vida de estudos e vitórias. Com uma trajetória árdua, mas recompensadora, a magistrada lançou seu livro de memórias “Hei de Vencer – A trajetória vitoriosa da filha de Seu Nilo e de Dona Estefânia”, no Teatro Alberto Maranhão, em Natal.
“É uma sensação de dever cumprido, de ter acreditado em mim, de ter uma estrutura familiar que me permitiu chegar aqui, de ter amigos que construíram comigo essa grande caminhada e que hoje eu deixo nesse registro, a certeza de que todas as pessoas humildes possam realmente acreditar e, se estudarem, serem o que quiserem”. Em resumo, deixou a mensagem que o sucesso deriva do esforço, dia a dia.
Desde a sala improvisada embaixo da árvore, passando pelos corredores do tradicional Colégio das Neves, onde ganhou uma bolsa de estudos, até os bancos da renomada Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a vontade de vencer foi o que deu origem ao nome da obra, que condensa em 160 páginas a trajetória de 75 anos de vida da magistrada.
A família prestigia o lançamento do livro sobre a trajetória de vida da desembargadora. Seu irmão contou que eles eram tão humildes que só um da família podia estudar. E como era a Zeneide, que só tirava a nota 10, foi ela a escolhida. Então, uma mulher, em uma época em que eram preteridas, foi escolhida.
Zeneide Bezerra, quinta mulher a chegar ao cargo de desembargadora do RN, estagiou com a então juíza Clotilde Madruga em Parnamirim por quatro anos, o que, de acordo com ela, fez crescer um sonho que já existia: o de se tornar magistrada. Não demorou muito para acontecer, passou no concurso de 1979 e, junto com a magistratura, fez questão de exercer um trabalho social, hoje reconhecido além do Rio Grande do Norte.
PAUTAS CARAS
Cultura e educação sempre foram duas pautas caras para Zeneide. Criou projetos como o “Justiça na Praça” e o “Justiça e Escola”. Afinal, acredita ser importante repassar às gerações mais novas o que desempenhou um papel transformador em sua vida. “É muita ousadia pensar que sou exemplo para gerações futuras, mas gostaria de pensar que minha história pode servir de inspiração”, comenta a magistrada integrante da segunda instância da Justiça potiguar.
O livro teve participação do juiz Fábio Ataíde, que escreveu a orelha do livro; do advogado Diógenes da Cunha Lima, autor do prefácio; e da ministra aposentada do STJ, Eliana Calmon, que escreveu a apresentação da obra.
Fábio Ataíde, que trabalha em projetos sociais junto a desembargadora, fez questão de pontuar que a participação dele na obra foi sentimental. “A minha participação foi na orelha e também nos sentimentos que envolvem esse livro, o processo de criação desenvolvido pelas autoras envolveu muito sentimento. Esse livro tem `cheiro de guaraná´ de uma menina sonhadora, que continua sonhando. De toda trajetória dela, eu levo o ser humano que ela é, a desembargadora é uma pessoa que sempre diz que é possível e ela realiza”.
Diógenes da Cunha Lima foi de professor a amigo da família da magistrada. “Para mim, a emoção maior é que ela tinha uma vocação para ajudar os desvalidos. Os desvalidos não só pela pobreza, mas pela injustiça da nossa sociedade. Sempre teve esse olhar tranquilo e positivo, no sentido de elevar as pessoas. Essas ideias que participam do meu coração”, ressalta o advogado e poeta.
“Ela transformou a presença feminina para que tivesse um momento alto na magistratura. Sempre defendeu as pessoas, a mulher, como participação ativa. Não só em movimento social, mas na vida prática. Então esse é um registro que eu fiz no meu prefácio”, reforça o ex-reitor da UFRN.
Redação, com informações do TJ-RN