A segunda Mostra de Reinserção Social, promovida pelo Poder Judiciário do Pará, pelo Governo do estado e pela Secretaria de Administração Penitenciária do Pará (SEAP) na última quinta-feira (7) reuniu no auditório Maria Lúcia Gomes Marcos dos Santos, localizado no Anexo I do edifício-sede do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA) participantes de projetos artísticos que visam ao reingresso na sociedade de custodiados e custodiadas em casas penais no estado.
O evento teve participação da desembargadora Rosi Maria Gomes de Farias, do defensor público Márcio da Silva Cruz, do pastor Samuel Câmara, presidente da Igreja Assembleia de Deus em Belém e das famílias das pessoas custodiadas, que acompanharam as apresentações.
Presente na abertura do evento, o corregedor-geral de justiça do estado do Pará, desembargador José Roberto Pinheiro Maia Bezerra Júnior, se dirigiu a todos “recuperandos e recuperandas”, como denominou as pessoas que passam pelo processo de reinserção social, e ressaltou a boa vontade necessária para a ocorrência deste processo.
“Esta mostra que se realiza nesta data evidencia e comprova a recuperação, que passa por uma questão muito simples: a boa vontade, do Estado, em proporcionar meios para que seja possível, boa vontade do recuperando, em querer aproveitar esta oportunidade. E para que esta boa vontade se concretize, se faz necessário um esforço de cada um dos agentes envolvidos. O principal esforço é do recuperando, é a vontade de reescrever sua história. Todos nós cometemos erros e muitas vezes tomamos decisões infelizes em nossas vidas, mas elas são momentos e não nos definem como seres humanos”, disse o desembargador, que acrescentou que seres humanos são capazes da transformação, da melhoria e da conquista do que desejam, desde que aprendam a fazer as escolhas certas.
O magistrado mencionou o papel da família no apoio à pessoa presa ao ser reinserida socialmente. “Desejo que sejam felizes no processo de reinserção social, que olhem para o passado com uma lição, que não se resume à privação da liberdade, mas também da privação do convívio com a família”.
O juiz titular da Vara de Execuções Penais da Região Metropolitana de Belém, Deomar Alexandre de Pinho Barroso, destacou que quase 100% dos participantes da mostra cumprem regime fechado e disse ser possível a mudança nesses casos. “Temos que acreditar no ser humano, é possível caminhar diferente”.
O magistrado acrescentou que o cumprimento da pena não se restringe à pessoa que foi presa, mas se estende à família e que o momento do encarceramento, apesar de difícil, pode servir para um propósito benéfico.
“Temos que enxergar no encarcerado um irmão que perdeu a liberdade, mas não perdeu a dignidade, continua sendo homem e mulher e merece a minha compreensão”, disse.
A coordenadora de Educação Prisional do Pará Patrícia Sales Cardoso explicou que o foco da SEAP é a reinserção e colocou à disposição a secretaria para receber parcerias.
Em seguida, diversos projetos musicais se apresentaram. São eles: o Coral Soldados de Cristo 100% Liberdade, formado por custodiados da unidade de custódia de reinserção de Icoaraci, sob orientação da igreja do Evangelho Quadrangular; o coral Reviver – Volta à Vida, composto por mulheres custodiadas na unidade de custódia de reinserção feminina de Ananindeua, sob orientação da Comissão geral do Ministério Evangélico do Brasil, o coral Filipos, formado por homens custodiados na unidade de custódia de reinserção de Marituba, sob orientação da igreja Assembleia de Deus e o coral Transformados por Jesus, da unidade de custódia de reinserção de Marituba, sob orientação da igreja Universal do Reino de Deus.
O custodiado Rodrigo Louzada, de 41 anos, da unidade de custódia de reinserção de Abaetetuba, deu seu testemunho de vida e de oportunidades. Atualmente ele cursa Administração e trabalha como monitor da biblioteca.
“Vocês podem alcançar a mudança. Primeiramente ela tem que vir de nós, independente de erros, independente da vida que nós tivemos, precisamos descobrir quem somos. Qualquer pessoa possui poder para transformar sua vida, basta que queira e se conscientize disso. Nos mais de oito anos que estou privado de liberdade temos realizado e alcançado metas antes não obtidas. Alfabetizamos vários iletrados com o projeto Tempo de Ler, preparamos os internos para as avaliações do Ensino Fundamental, preparatório para o ENEM, em tudo obtivemos grande aproveitamento”, disse.
Mulheres encarceradas participantes do projeto Realize também declamaram poemas e fizeram uma exposição de artesanato, pintura e costura.
A programação terminou com um desfile de moda da Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (COOSTAFE) que apresentou uma coleção de oito peças inspiradas nas palmeiras da Amazônia, lançadas no Amazônia Fashion Week. A cooperativa é formada por 30 mulheres privadas de liberdade.
O juiz Deomar Barroso, a coordenadora de Educação Prisional do Pará Patrícia Sales Cardoso e a desembargadora Rosi Maria Gomes de Farias receberam quadros de um custodiado desenhista e cartunista.