Quando a advogada Mariane (nome fictício) e o advogado Aldemir Pessoa Júnior se conheceram, ela não imaginava que fosse ser mais uma vítima de violência doméstica, mesmo sabendo que Aldemir já respondia no Judiciário cearense pelo crime de feminicídio. O relacionamento entre o casal de advogados passou de sonho a pesadelo em poucos meses e, segundo Mariane foi marcado por episódios de agressão e até mesmo ameaças a parentes dela.
Ela afirma que levou tempo até que se percebesse como vítima. O misto de vergonha e por pensar “o que vão falar de mim sendo advogada e mesmo assim tendo passado por isso?” fez com que a situação se agravasse e chegasse ao ponto de, conforme o relato de Mariane, Aldemir passar a agredi-la mesmo enquanto ela dormia, sob efeitos de fortes medicamentos.
Eu sofro de insônia e ele começou a me espancar enquanto eu dormia, medicada. Ele me batia de madrugada e gravava. Só descobri isso quando ele mostrou uma das gravações aos meus familiares, recentemente. Ele tentou me colocar em uma situação de vexame, utilizando de todos os meios possíveis para que eu me calasse”, relata a vítima. A defesa do suspeito foi procurada, mas não respondeu.
Hoje, Mariane e a mãe dela têm medidas protetivas contra o suspeito. A mesma chance de sobrevivência não foi dada a empresária Jamile de Oliveira Correia que, conforme acusação do Ministério Público do Ceará (MPCE), foi assassinada por Aldemir, em agosto de 2019.
“EU ACREDITAVA QUE ELE TINHA PASSADO POR UMA INFELICIDADE”
Mariane conheceu Aldemir após o ‘Caso Jamile’ ganhar repercussão na imprensa. Aldemir se disse apaixonado por Mariane e falava que o fato envolvendo Jamile tinha se tratado de um suicídio. “Eu acreditava que ele tinha passado por uma infelicidade, o que podia acontecer com qualquer um. Acreditava que a morte de Jamile não era um ato de violência”, pensava a mulher que afirma ter sido a próxima vítima dele.
A advogada não poupava elogios ao namorado no início da relação: “era educado, gentil e cavalheiro”. Ela não recorda o momento exato da ‘virada de chave’ no comportamento, mas disse que passou a perceber Aldemir como uma pessoa ciumenta e que a violentava psicologicamente.
“Se tornou ciumento ao extremo, implicava com a minha roupa e reclamava se eu falava com homens. Ele passou a praticamente morar comigo. A situação foi se agravando quando ele começou a me agredir fisicamente.
Eu senti vergonha do que acontecia, mas não me senti encorajada a denunciar. Não me sentia à vontade de contar para os meus familiares o que acontecia comigo. Até que chegou a uma violência muito grave. Acredito que só estou aqui graças a um vizinho meu, que me socorreu”, conta a vítima.
“A violência foi crescendo aos poucos. Eu apanhei, eu fui agredida psicologicamente e emocionalmente. Eu fiquei em uma situação que não tive outra opção a não ser denunciar. Isso me causou muita vergonha. Pensei: eu, profissional do Direito, vivenciei isso e não percebi de cara”, diz Mariane.
SUSPEITO SEGUE EM LIBERDADE
Segundo a advogada, o que a fez perceber a gravidade da situação foi quando os parentes dela começaram a ser ameaçados. Mariane fala que ainda hoje, mesmo com a medida protetiva, se sente coagida por Aldemir e deseja que ele seja preso, para poder novamente se sentir em segurança.
A reportagem questionou a Polícia Civil do Ceará (PCCE) sobre o andamento da investigação do caso e se há mandado de prisão para Aldemir. Após a publicação desta matéria, o órgão informou, nesta segunda-feira (20), que a “Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Fortaleza mantém as investigações de um crime no âmbito da violência doméstica. Detalhes sobre o caso e a identificação do suspeito e da vítima serão preservados para não comprometer o trabalho investigativo, que está em andamento”. No entanto, a Polícia não respondeu sobre existência do mandado de prisão.
Com informações do Diário do Nordeste