Após passagens pela Zona Oeste da capital e pela Região Serrana, o projeto ‘Advocacia sem machismo’ da Caixa de Assistência da Advocacia do Rio de Janeiro (Caarj) chegou ao Sul Fluminense, na tarde de quinta-feira, dia 26, com a realização de um evento em Barra Mansa, que reuniu vários presidentes de subseções da região, além de estudantes de Direito locais e de municípios vizinhos. O encontro no repleto Auditório Pedro Monteiro Chaves, que também contou com atividades do projeto ‘Caarj 4.0’, levou à sede da subseção debates sobre medidas de proteção a advogadas e a participação masculina no combate à cultura do machismo dentro da advocacia.
“Este é um tema do interesse de toda a sociedade”, afirmou a presidente da Caarj, Marisa Gaudio.
“A Caixa trabalha com a assistência em diferentes vertentes, e uma delas é a saúde mental. A ideia de discutir um tema amplo e complexo como o machismo é uma tentativa de falar sobre questões que estão presentes no nosso dia a dia e que formaram a nossa construção social. E nessa discussão, é importante também trazer os homens para falar, por duas razões: primeiro, porque eles fazem parte dessa sociedade a ser transformada. E também porque eles são ouvidos e ajudam a transformar outros homens. O que viemos discutir aqui é a nossa atuação. Como passamos por violências de gênero nos tribunais; como também muitas vezes, nós mulheres, cometemos essas violências; como os homens podem auxiliar nessa luta, e como podemos atuar de uma forma mais justa e igualitária”.
O comando da cerimônia ficou a cargo do anfitrião e presidente da OAB/Barra Mansa, Aloizio Perez. Compuseram a mesa do evento a coordenadora-geral do Caarj 4.0 e conselheira da OABRJ, Andréa Cabo; a vice-prefeita de Barra Mansa, Fátima Lima, e o vice-diretor de Valorização da Advocacia da OABRJ, Lucas Perez. Entre os presidentes de subseções presentes estiveram Diego Esteves (OAB/Miguel Pereira); Carolina Patitucci (OAB/Volta Redonda); Aline Penna (OAB/Rio Claro); Paulo Afonso Loyola (OAB/Mendes), e Luiz Augusto Costa (OAB/Piraí). O encontro contou ainda com palestras da diretora-executiva da Caarj, Priscila Nunes, e do procurador-geral de Nova Iguaçu, Rafael Alves de Oliveira.
“Nossa OAB Mulher já tem mais de cem integrantes e é uma das maiores e mais atuantes do estado”, afirmou Aloizio.
“Mas nossa meta é chegar a pelo menos trezentas. Estamos defendendo as mulheres advogadas, e por consequência, toda a sociedade. Trabalhamos pela igualdade de gênero dentro da Subseção de Barra Mansa e todos os casos que chegam até nós têm absoluta prioridade, como aconteceu meses atrás quando tivemos uma colega agredida e prestamos apoio. Temos sempre que defender as mulheres e a OABRJ tem essa luta constante. Estamos lado a lado com a Caarj e a Seccional comandada pelo presidente Luciano Bandeira, que é o nosso timoneiro nessa missão”.
Falando aos estudantes presentes no auditório, a coordenadora do Caarj 4.0 instou os universitários a se aproximarem das atividades da Ordem e fortalecer projetos como o ‘Advocacia sem machismo’.
“Cada encontro como esse tem sido um grande aprendizado para mim”, afirmou Cabo.
“A parceria do ‘Caarj 4.0’ com o ‘Advocacia sem machismo’ tem reunido advogados e estudantes em todo o estado e eu quero dar as boas-vindas a todos vocês que estão completando o curso de Direito ou que já foram aprovados no Exame da Ordem e estão à espera de suas carteiras. Essa parceria também é das 63 subseções, que também serão a casa de todos vocês, e das 108 faculdades envolvidas. Todos nós somos irmãos e colegas, e muito em breve vocês poderão estar aqui. A Caixa de Assistência, que hoje tem 7 mil estudantes afiliados, faz parte do sistema OAB, e estamos todos juntos num único objetivo: estar cada vez mais próximos dos estudantes e cada vez mais unidos em prol da advocacia”.
Primeira palestrante do evento, Priscila Nunes relatou casos de violência de gênero dentro da atividade da advocacia, destacando o difícil cenário enfrentado pelas mulheres advogadas.
“Hoje temos aqui muitos estudantes, e é muito importante que vocês façam da OAB uma extensão de suas casas”, afirmou Priscila.
“Quando estava grávida de nove meses tentei adiar uma audiência e tive meu pedido negado pelo juiz. Como consequência, já entrei na sala de parto com a cabeça na audiência. Hoje, temos a Lei Julia Matos, que auxilia mulheres nessa condição, mas ainda assim as violências de gênero estão presentes em todas as frentes. As mães que trabalham são vistas como mulheres que negligenciam seus filhos, enquanto as que se dedicam a cuidar de seus filhos são vistas como mulheres que não querem fazer nada e se limitam a serem sustentadas por seus maridos”.
Por sua vez, Rafael Alves de Oliveira apresentou exemplos históricos da desigualdade de gênero no Brasil.
“Quanto mais nos afastamos dos grandes centros, notamos de forma mais evidente as desigualdades sociais e as desigualdades em função de gênero”, afirmou o procurador. “Mas essas discrepâncias, tão evidentes nas periferias, se estendem até a mais alta esfera de poder. Em 132 anos de Supremo Tribunal Federal (STF) tivemos 168 ministros homens e três mulheres. Nossa última presidente do STF, Rosa Weber, ao ser sabatinada no Senado Federal, teve seu saber jurídico questionado por ser oriunda do Direito do Trabalho. E ela só foi questionada com tanta violência por ser uma mulher. Infelizmente, ainda temos que fazer homenagens ao Dia da Mulher ou eventos sobre o machismo na advocacia, porque o ideal seria que isso não fosse nem necessário”.
O procurador exortou o público masculino a apoiar a luta das mulheres por mais igualdade.
“Nossa esperança reside em vocês, estudantes que, ao contrário do que dizem, são uma geração verdadeiramente mais humana que a nossa”, afirmou Rafael.
“Hoje, ainda temos números alarmantes de violência contra mulheres, é verdade, mas esses números são menores que os do passado e, principalmente, são vistos. Nós vivemos por muito tempo uma época na qual ninguém metia a colher em briga de marido e mulher. Nós homens, que nunca sofreremos com o machismo, temos o dever de ter empatia e de abandonar certos comportamentos. Às mulheres aqui eu digo: desenhem uma linha no chão e a partir daí, só andem para a frente, sem retroceder, até chegar o momento de desenhar outra linha, e mais outra, e mais outra e mais outra. Aos homens: lembrem-se de ter empatia e de transmiti-la a outros homens”.
Ao fim do evento, Marisa celebrou o sucesso do encontro e a participação de lideranças da advocacia local.
“Esse projeto começou com pequenas oficinas na Seccional, mas percebemos a importância de levá-lo às subseções”, afirmou a presidente da Caarj. “Os presidentes do Sul Fluminense se engajaram no projeto numa grande demonstração de união, e estamos alinhados com a OABRJ para discutir o machismo na sociedade, no sistema do Judiciário e em todos os espaços de poder”.