Mulheres e negros na OAB não podem servir só para cumprir cota. A declaração foi dada pela criminalista Dora Cavalcanti em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Ela foi uma das defensoras da igualdade de gênero e racial no Conselho Federal da Ordem, que foi aprovada em 2020.
“O universo da advocacia ainda é extremamente masculino. Choca olhar uma fotografia em que todos os presidentes das seccionais da OAB são homens. Até hoje, nenhuma mulher foi presidente da OAB-SP. O mote deste movimento foi o que aconteceu em dezembro, quando foi aprovada no Conselho Federal a paridade de gênero com equidade racial. Foi brigado, teve que ser goela abaixo. A construção não pode ser mais de mulheres, negras e negros nas chapas só cumprindo cota”, afirmou.
Na entrevista, Dora não descartou disputar a presidência da OAB paulista no final deste ano e disse que já está trabalhando em uma pré-candidatura, com uma chapa que inclua mulheres e negros. Ela também falou do desejo de ver uma mulher presidindo a OAB Nacional. Mas lamentou que a advocacia ainda seja um ambiente machista.
“Hoje há muitas advogadas competentes que abrem escritórios, que são chamadas para causas desafiadoras. Mas nos rankings, nos processos de lideranças, é um espaço extremamente masculino. Assim como os clientes são homens. Hoje há programas em que as advogadas que são sócias procuram trabalhar essa questão da ascensão da advogada nos grandes escritórios. Mas o gargalo está lá. Mudou muito pouco, de 2006 para cá, o espaço das mulheres no topo da sociedade”, completou.
Dora citou episódios de machismo que enfrentou, principalmente no início da carreira. Mas disse que, hoje, com 25 anos de advocacia, já está “calejada”. Porém, é justamente esse machismo que a incentiva a lutar por uma candidatura feminina para o comando da OAB-SP. Para a criminalista, uma mulher na presidência da Ordem traria “uma construção mais coletiva”.
“A mulher tende a construir de forma mais colegiada. Uma palavra que faz parte da vida da mulher desde pequena é cuidar. Essa palavra não está na agenda da OAB seccional São Paulo, que é cuidar dos seus inscritos que talvez não enxerguem o quanto a OAB pode ser essencial no dia-a-dia, no plano da organização de uma carreira e também na inspiração de modelos, na mentoria”, disse.
Sergio Moro
Em 2015, Dora representou a Odebrecht em ações da “lava jato”. Na entrevista à Folha, a advogada foi questionada sobre sua opinião a respeito do ex-juiz Sergio Moro e citou um episódio que ocorreu em uma audiência de outra operação conduzida por ele.
“O retrato que fica é de uma audiência que fiz lá trás, na operação farol da colina, em que ele ouvia uma testemunha do DEA em inglês. Dispensou o tradutor e, ao ditar, modificou coisas do depoimento. Por esse desapego pela verdade processual, o jurisdicionado está melhor sem Moro. Mas vamos reconhecer sua capacidade de trabalho”, afirmou.
Fonte: Conjur