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INCLUSÃO SOCIAL: Primeira turma com cotistas negros se forma na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

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A Turma 191 da Faculdade de Direito na Universidade de São Paulo (USP), que acaba de se formar, é a primeira da tradicional instituição — em quase 200 anos de história da instituição — com percentual de vagas reservadas para pretos, pardos e indígenas.

Filhos de faxineiras, garis, pedreiros, donas de casa e professores, os 35 jovens venceram a sensação inicial de não pertencimento à faculdade e promoveram uma série de transformações na instituição ao longo dos últimos 5 anos, como a implementação de políticas de permanência mais efetivas, com reajuste de bolsas para jovens de baixa renda e reformas na residência estudantil e a inclusão de novos debates em sala de aula e de autores negros nas bibliografias das disciplinas.

“Vocês são o exemplo vivo de que podemos construir sociedade muito melhor e de que o Direito pode ser ferramenta decisiva desse processo”, afirmou na formatura o diretor da faculdade, Celso Fernandes Campilongo. De uma turma de 312 formandos, 75 eram cotistas, via Sistema de Seleção Unificada (Sisu). E 35 deles entraram pela reserva para PPIs (sigla que significa pretos, pardos ou indígenas).

Os estudantes que agora concluíram o curso entraram em 2018. Tiveram dois anos de aulas presenciais, que só foram retomadas no ano passado, ainda em meio à pandemia. “Assistiram a faculdade liderar enorme movimento nacional em defesa do Estado democrático de direito, com a leitura da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros, do Pátio das Arcadas para todo o país”, afirmou ainda o diretor.

Diferenças sociais

A paraninfa do período noturno, professora Mariângela Magalhães, apontou a responsabilidade dos formandos, especialmente diante dos excluídos sociais. “Afinal de contas, como não acreditar no potencial dessa turma que simboliza a enorme revolução que se dá dentro da faculdade, e extravasa para fora de seus muros? Como não acreditar na turma que, ciente das diferenças sociais existentes entre os colegas, não mediu esforços para que ninguém ficasse para trás?”

Homenageada pelos alunos – foi a patronesse, feminino de patrono –, a professora Eunice Prudente destacou a questão da equidade. “A Universidade de São Paulo alcançou já a meta de 50% dos alunos advindos das escolas públicas. E, também, os alunos negros e indígenas. Esse é um compromisso muito sério.”

Luta por inclusão

Primeira presidenta negra do Centro Acadêmico XI de Agosto e oradora da turma, Letícia Chagas falou sobre a luta por inclusão e relatou dificuldades. “Pra nós, estudantes cotistas, uma das maiores dificuldades foi encontrar um lugar para morar em uma cidade tão cara como São Paulo. Por isso, a Casa dos Estudantes (moradia estudantil para estudantes de baixa renda) teve papel essencial na vida de muitos de nós”, afirmou Letícia, filha de caminhoneiro e trabalhadora doméstica. Já Victória Dandara Toth tornou-se a primeira travesti a fazer o juramento.

Professor de Direito Constitucional na USP, Alexandre de Moraes – ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral – mandou mensagem por vídeo. Assim como Cristiano Zanetti, professor de Direito Civil.

“O momento é importante para o país e para a nossa democracia. A colação representa muito mais do que o término de um curso de graduação. Representa o início de uma nova etapa em defesa da Justiça, da igualdade, da solidariedade e do fortalecimento do Estado democrático de direito”, disse Moraes. “Graças a vocês, a academia é mais justa, mais plural, mais brasileira”, acrescentou Zanetti.

“A ação afirmativa na forma de cotas raciais é uma das mais bem sucedidas políticas públicas de nossa história”. celebrou em rede social o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida.

“A gente não podia se dar ao luxo de só estudar. A primeira turma de cotistas negros tinha de ser ativa politicamente”, conta Letícia, que relembra que havia certo espanto com a sua presença ali. “Eu andava pela faculdade e ouvia: ‘mas você estuda aqui?’. Havia um estranhamento em ver alunos como nós. Acho que agora, 5 gerações depois, os novos cotistas que entram ficam mais confortáveis de sentir que é um espaço deles também.”

Com informações da RBA e G1

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