Integrantes de diferentes movimentos que trabalham pela escolha de uma primeira ministra negra para o Supremo Tribunal Federal (STF) ainda insistem em angariar apoio para essa indicação, mas acumulam frustrações em meio à corrida aberta com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski.
O principal ponto de decepção de parte desses grupos vem do fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não ter se comprometido com esse perfil.
Nas últimas semanas, a indicação de uma mulher negra recebeu declarações simpáticas de integrantes do primeiro escalão do governo, entidades jurídicas e do ministro do STF Edson Fachin.
Ao mesmo tempo, uma ofensiva de defensores do advogado Cristiano Zanin, já citado pelo próprio Lula, e a falta de um apoio amplo no Judiciário fizeram o movimento perder fôlego na disputa da vez.
Presidente da Associação Nacional da Advocacia Negra (Anan), Estevão Silva afirma que a indicação de Zanin é dada como certa nos bastidores, com a manutenção de um homem na vaga, apesar da falta de paridade histórica na corte.
“A pressão que tenho notado é o silêncio, que é uma das formas adotadas por séculos como forma de diminuir os pleitos das pautas negras. Ficam o movimento negro e as pessoas negras puxando a corda e não estamos encontrando eco em outros setores, como a magistratura, o Ministério Público e a Advocacia-Geral”, afirma Silva.
Até hoje apenas 3 mulheres (Ellen Gracie, Carmem Lúcia e Rosa Weber) se tornaram ministras do Supremo, nenhuma delas negra.
Em seus dois primeiros mandatos, Lula indicou 8 ministros para a corte, sendo 1 negro, Joaquim Barbosa, que se aposentou em 2014. Escolhido pelo petista em 2003, o magistrado foi o terceiro e último ministro negro no Supremo. Dos 10 ministros da atual composição da corte, 6 foram indicados por Lula e Dilma Rousseff (PT).
Até o momento, as apostas na corrida pela cadeira de Lewandowski são lideradas por dois advogados homens e brancos. Além de Zanin, advogado pessoal de Lula nos processos da Operação Lava Jato, Manoel Carlos de Almeida Neto, ex-assessor do agora ex-ministro do Supremo, também é cotado.
No início de março, Lula afirmou que “todo mundo compreenderia” se ele indicasse Zanin. O aceno vem também de canais de comunicação e advogados ligados à esquerda, com discursos que classificam a falta de representatividade no STF como um aspecto menor.
Na falta de uma sinalização positiva do Planalto, os movimentos decidiram esperar o surgimento da segunda vaga com a aposentadoria da presidente do STF, a ministra Rosa Weber, para continuar a trabalhar a pauta da diversidade. A outra indicação de Lula ao STF é prevista para ocorrer a partir de outubro, quando a atual presidente da corte completará 75 anos, idade-limite para permanecer no tribunal.
Com informações da Folha de São Paulo