A Justiça de São Paulo condenou nesta semana um advogado a pena de 3 anos de prestação de serviços comunitários e pagamento de 20 salários mínimos por ter feito comentários homofóbicos durante um júri popular em 2019. Entre eles, Celso Vendramini havia dito que “vai ser gay lá na Rússia pra ver o que acontece”.
O governo russo tem uma política de proteger o que chama de “valores tradicionais” do país. A repressão aos LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer, intersexuais, assexuais e outros) começou há uma década, quando o presidente Vladimir Putin tomou medidas que não reconhecem direitos dessa comunidade. Em 2020, ele enviou ao Parlamento uma reforma constitucional que proibiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No Brasil essa união é permitida.
Essa e outras falas de Vendramini no julgamento conseguiram convencer à época os jurados a absolver dois policiais militares que ele defendia e eram acusados de assassinar dois suspeitos de crimes. Naquela ocasião, os agentes da Polícia Militar (PM) foram julgados como réus por homicídios cometidos dois anos antes, em 2017. Eles negaram os crimes e respondiam ao processo em liberdade.
Segundo o Ministério Público (MP), os PMS executaram a tiros dois jovens que teriam roubado um veículo com cigarros na Zona Norte de São Paulo. Os jurados, no entanto, absolveram os policiais das acusações de homicídios e entenderam que eles agiram em legítima defesa quando atiraram nos suspeitos.
Vendramini, de 68 anos, é conhecido por atuar há mais de 30 anos nas defesas de PMs investigados por diversos crimes.
Entre as declarações que Vendramini fez naquela audiência de novembro de 2019 no Fórum Criminal da Barra Funda, e que foram consideradas homofóbicas pela Justiça, estão:
- “O pessoal fala muito da Rússia. Eu sou fã do Putin. Sou fã do Putin. Lá não tem boi não. Lá não tem passeata gay na Rússia não. Vais ser ‘viado’ lá na, em Cuba pra ver o que acontece. Vai ser gay lá na Rússia pra ver o que acontece”
- “Filho usando azul… filha usando cor-de-rosa… depois, se o filho quiser mudar pra cor-de-rosa, o problema é dele… se a mulher quiser mudar depois para azul, o problema é dela”
- “Não sou contra segmento LGBT em hipótese alguma […] cada um respeitando seu espaço“
- “Eu digo assim… às vezes brincando com os colegas… pessoal… vou virar homossexual…depois de velho… 65 anos”
- “Hoje, parece que ser hétero é pecado”