Diante de um expressivo número de material apreendido no bojo de investigação criminal sobre corrupção e da impossibilidade de a defesa retira-lo para análise, não é razoável obrigar os advogados do réu a fotografar individualmente cada peça de seu interesse.
Com esse entendimento, a 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) concedeu ordem em Habeas Corpus para determinar que a 5ª Vara Federal de Londrina (PR) faça a digitalização de documentos e provas, de modo a disponibilizá-los à defesa.
O caso trata de suspeita de corrupção mediante apropriação irregular de recursos públicos destinados à saúde do município de Londrina e conta com acordo de colaboração premiada firmada pelo Ministério Público Federal com um dos investigados.
Para evitar que a acusação faça seleção arbitrária e descontextualizada de provas, a defesa de um dos delatados, feita pelo advogado Luiz Antonio Borri, pediu à 5ª Vara Federal de Londrina a digitalização e inserção do material apreendido nos autos do processo.
Esse pedido foi negado porque, além de existir grande quantidade de bens apreendidos, a natureza de alguns deles (computadores, pendrives, celulares) não permitiria sua simples anexação aos autos.
A saída encontrada foi permitir à defesa, mediante agendamento, comparecer à vara para coletar as provas. Isso significou para o advogado fotografar, no balcão, uma a uma, mais de 8 mil páginas de processo. A defesa então pediu a carga do material, igualmente negada pelo juiz.
No pedido de Habeas Corpus, a defesa alegou que a posição do juízo viola o exercício do direito de defesa e as prerrogativas profissionais do advogado.
Relator, o desembargador Luiz Carlos Canalli deferiu a liminar e confirmou-a no julgamento de mérito, com menção à Súmula 14 do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual é direito do defensor ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
“Com efeito, se revela muito mais adequado que, em tempos de processo eletrônico, os documentos até então armazenados em caixas de papel sejam devidamente digitalizados e vinculados ao processo originário”, observou. A votação foi unânime.
“A existência de novas tecnologias não pode servir de justificativa para impor ônus absolutamente desmedido aos defensores, consistente em fotografar milhares de páginas de documentos depositados na secretaria do juízo que deveriam estar inseridos no sistema eletrônico de tramitação e com disponibilidade de amplo acesso às partes”, comentou o advogado Luiz Antonio Borri.
HC 5020140-49.2022.4.04.0000
Com informações da Conjur