O ex-advogado-geral da União, Bruno Bianco, confirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira, 29 de maio, que o ex-presidente Jair Bolsonaro o procurou para discutir a possibilidade de reverter o resultado da eleição que consagrou a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.
Segundo Bianco, Bolsonaro, acompanhado de comandantes das Forças Armadas e do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, questionou se havia algum problema jurídico no resultado e se o advogado-geral da União vislumbrava algo que pudesse ser contestado.
Bianco afirmou ter respondido negativamente, assegurando que a eleição foi conduzida de forma “transparente” e que havia uma comissão em funcionamento para garantir a lisura do processo. Embora não soubesse afirmar com precisão, Bianco disse acreditar que todos os comandantes das três Forças Armadas estiveram presentes no encontro.
CONTEXTO
Bruno Bianco depôs como testemunha de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e réu na ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado. A existência dessa reunião foi levantada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. O encontro teria ocorrido após o final de outubro de 2022, quando Lula venceu o segundo turno com 50,9% dos votos válidos contra 49,1% de Bolsonaro.
Poucas horas após o resultado eleitoral, caminhoneiros bloquearam rodovias em todo o Brasil, em um movimento de não reconhecimento da derrota do então presidente. As manifestações ganharam força, levando a acampamentos em frente a quartéis militares, especialmente o Quartel-General do Exército, em Brasília. Em 8 de janeiro de 2023, manifestantes marcharam dessa unidade na capital federal em direção à Praça dos Três Poderes, vandalizando os prédios do STF, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.
OUTROS DEPOIMENTOS
Nesta quinta-feira, a defesa de Torres ouviu ex-ministros do governo Bolsonaro pelo terceiro dia consecutivo. Além de Bruno Bianco, prestaram depoimento Adolfo Sachsida, ex-ministro de Minas e Energia, e Wagner Rosário, ex-ministro da Controladoria Geral da União (CGU).
Sachsida afirmou que a desconfiança em relação às urnas eletrônicas, manifestada durante uma reunião ministerial do governo Bolsonaro em julho de 2022, não chamou sua atenção.
Rosário, por sua vez, foi questionado pelo advogado de Torres, Rafael Viana, sobre a mesma reunião ministerial. Para ele, não houve discussão sobre ruptura institucional naquele encontro. “Não tivemos discussão sobre isso. Todas as discussões passavam por problemas nas urnas eletrônicas, para que passassem por um aprimoramento para que tivéssemos um resultado que fosse fidedigno“, disse Rosário.
A defesa de Torres também havia convocado o ex-ministro da Economia Paulo Guedes, o ex-ministro da Secretaria de Governo Célio Faria e o procurador federal Adler Anaximandro Cruz e Alves, mas desistiu do depoimento dos três.