Um ano e meio após ser comparada a uma “cadela” durante audiência no Tribunal do Júri de Manaus, a advogada criminalista Catharina Estrella segue sem ver avanço no processo movido contra o promotor Walber Luís do Nascimento. O caso está parado porque ao menos dez promotores e um juiz se declararam suspeitos, o que impediu o andamento da ação por injúria — crime que pode prescrever ainda este ano.
CORPORATIVISMO E RISCO DE IMPUNIDADE
O episódio, registrado em vídeo e amplamente divulgado em setembro de 2023, gerou forte repercussão. Durante a audiência, Walber do Nascimento afirmou que, em termos de lealdade, “uma cadela é mais leal que a advogada”, em referência direta a Catharina Estrella. Na ocasião, o juiz Carlos Henrique Jardim da Silva, que presidia a sessão, não interveio — fato pelo qual foi posteriormente punido com censura disciplinar pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A defesa de Catharina, liderada pelo criminalista Alberto Zacharias Toron, vê na série de recusas por parte dos membros do Ministério Público do Amazonas (MP-AM) uma atitude corporativista. “É vergonhoso que tantos promotores se declarem suspeitos. Isso mostra uma tentativa de proteger o colega”, disse Toron.
O MP-AM justificou que as recusas se devem a vínculos profissionais ou pessoais com o acusado, que comprometeriam a imparcialidade. Em meio à paralisação, a juíza Themis Catunda determinou no dia 31 de março a redistribuição do processo para a Justiça Comum. A promotora Tainá dos Santos Madela deve assumir o caso.
PROMOTOR SE APOSENTOU COM SALÁRIO INTEGRAL
Pouco depois do ocorrido, o promotor Walber Nascimento solicitou aposentadoria e foi atendido com proventos integrais de R$ 42 mil. Antes de se afastar, ainda usufruiu de 20 dias de férias. O Ministério Público argumentou que a aposentadoria foi por tempo de serviço, sem qualquer relação com o episódio da audiência.
Além do processo por injúria, tramita também uma ação por calúnia contra o promotor na 1ª Vara Criminal de Manaus. A defesa do ex-promotor, por sua vez, nega as acusações e alega que as matérias jornalísticas sobre o caso tentam influenciar indevidamente os julgamentos.