Quase metade dos alvos de decisões de suspensão de contas em determinações do Supremo Tribunal Federal (STF) que foram divulgadas por deputados americanos tem ligação com os atos golpistas do 8 de janeiro, com o bloqueio de rodovias ocorrido após as eleições de 2022 e com acampamentos em frente a quartéis do Exército.
Os mandados judiciais atingiram em sua maioria perfis no X (antigo Twitter), mas há casos também de contas derrubadas em outras redes sociais, como Facebook e Instagram.
Documentos sigilosos liberados por um comitê da Câmara de Representantes dos Estados Unidos apontam bloqueios de contas contra 97 pessoas, algumas delas com mais de um perfil, por determinação do STF. Outras dezenas de pessoas também tiveram perfis suspensos por determinações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo as informações dos parlamentares, o conjunto todo soma cerca de 150 perfis alcançados no X.
Das 97 ordens do STF, 44 envolvem suspeitos de participação nos bloqueios de rodovias ou nos atos do 8 de janeiro. Os documentos indicam apenas o encaminhamento para redes sociais de decisões anteriores do ministro Alexandre de Moraes, então não é possível saber detalhes da fundamentação para o bloqueio. O STF afirma que todas as decisões da Corte são fundamentadas.
Entretanto, um cruzamento entre os perfis indicados e informações públicas permite identificar relação com investigações sobre atos antidemocráticos.
Em uma única ação, por exemplo, foram determinados 31 bloqueios. Esse processo trata de uma investigação sobre os bloqueios em estradas ocorridos após o resultado das eleições presidenciais, e a determinação de suspensão de contas ocorreu dias antes da Polícia Federal (PF) realizar, por ordem de Moraes, uma operação contra suspeitos de financiar os movimentos.
Um dos que tiveram perfil suspenso foi o deputado federal Zucco (PL-RS), que é investigado por suposto incentivo aos atos. Ele nega irregularidades. A conta foi reativada posteriormente.
Ao menos quatro bloqueios foram contra alvos da Operação Lesa Pátria, que já teve 26 fases e apura envolvimento com o 8 de janeiro. Um deles é o coronel Benito Franco, comandante do batalhão de Rondas Ostensivas Tática Metropolitana (Rotam) da Polícia Militar de Goiás (PM-GO). Ele gravou vídeo dizendo que “o ladrão não sobe a rampa”.
Também foi alvo Ramiro Alves Da Rocha Cruz Junior, conhecido com Ramiro dos Caminhoneiros, que é citado em depoimento de diversos outros presos como sendo um dos organizadores e incentivadores dos atos do dia 8.
Outra pessoa com perfil suspenso foi Gilcemar Faria de Oliveira, que é réu no STF por incitação aos atos, após ser preso no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército. A defesa afirmou que ele estava no local “pacificamente”.