Suspeito de ser um dos chefes de uma das milícias envolvidas numa guerra que provocou aumento no índice de homicídios em áreas de quatro delegacias, na Zona Oeste do Rio, André Costa Barros, o André Boto, tentou sair da cadeia pela porta frente. Boto, que fez uma harmonização facial para despistar a polícia, antes de ser preso em flagrante com uma pistola, em março de 2021, e que teria ordenado da prisão invasões em comunidades controladas por rivais, entrou com um pedido de relaxamento de prisão, alegando excesso de prazo de uma preventiva, decretada pela Justiça em 2022.
A medida não deu certo. No último 5 de junho, após analisar o pedido, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça indeferiu a solicitação do miliciano. Além dele, segundo a polícia, o grupo contaria com Alexandre Silva de Almeida, o Xande ou Solinha, que dividiria a chefia do grupo com Boto. Os dois são dissidentes da quadrilha de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho.
A dupla e outros nove bandidos de alta periculosidade foram transferidos para penitenciárias federais, no último dia 27 de junho. Parte dos detentos foi levada de helicóptero para o Aeroporto do Galeão, seguindo de lá, em um avião, para uma unidade federal de segurança máxima, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Dois dias depois, André Costa Barros chegou a ganhar uma liminar que obrigava o regresso para o Rio de Janeiro. O governo estadual recorreu, e a decisão acabou sendo cassada pela Justiça.
As disputas territoriais do bando com grupos rivais, que ocorrem em comunidades da Praça Seca, em áreas do Recreio do Bandeirantes, e também em morros e favelas de Jacarepaguá, foram responsáveis pela maior parte dos homicídios registrados na região, entre janeiro e maio deste ano. O principal aumento deste tipo de crime ocorreu na circunscrição da 32ª DP (Jacarepaguá), com 69 assassinatos nos primeiros cinco meses de 2023, contra 24 no mesmo período do ano passado. Um acréscimo de 187% na comparação dos dois períodos.
Os índices de homicídio também aumentaram nas áreas da 16ª DP (Barra da Tijuca), 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) e 28ª DP (Campinho). Por conta da guerra, a Secretaria de Polícia Civil elaborou um relatório de inteligência, encaminhado à Justiça, pedindo a transferência dos dois paramilitares para um presídio federal, por um período de três anos, em Regime Diferenciado Disciplinar (RDD). No documento, a polícia diz que Boto e Xande, entre outras coisas, teriam participado do planejamento para ataques em áreas rivais. O relatório serviu como base para decisão judicial que definiu a transferência da dupla.
O grupo de Boto e Xande, segundo a polícia, atua em comunidades de Curicica, em parte da Gardênia Azul, ambos em Jacarepaguá, em parte do Terreirão, no Recreio dos Bandeirantes, e ainda em parte do Morro do Fubá, em Campinho. Em Curicica não há conflito com outras quadrilhas. Na Gardênia, o bando de Boto trava uma guerra com paramilitares rivais chefiados por Philip Motta Pereira, o Lesk. Este último conta com apoio de traficantes da maior facção criminosa do Rio.
O grupo de André Costa Barros também apoia paramilitares que disputam com traficantes o controle de territórios em áreas dos Bairros de Rio das Pedras e da Muzema. Em todas as localidades, os bandos rivais disputam o direito de explorar negócios ilegais como venda de gás mais caro, taxas de segurança, cobrança de pedágio de motoristas de transporte alternativo e comercialização de loteamentos irregulares.