Uma advogada denunciou que já foi estuprada pelo juiz Marcos Scalercio, do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, quando era aluna dele em 2016, mas teve medo de denunciar e foi desacreditada. Ela decidiu romper o silêncio agora, após o surgimento de diversas denúncias de assédio sexual contra o magistrado neste mês.
Essa advogada deu depoimento sobre o estupro ao Ministério Público e relatou a situação para o jornal Folha de São Paulo. Ela disse ter ficado traumatizada e ainda tem dificuldade de relembrar o dia do crime.
“É um trauma que ficou. Me tornei uma pessoa ríspida e muito arisca. Tenho crises de ansiedade ao relembrar”, contou a advogada.
Três pessoas já denunciaram o juiz por assédio sexual e 87 possíveis vítimas já enviaram relatos ao projeto Me Too Brasil, que dá suporte a vítimas de violência sexual.
AMEAÇAS
A advogada relatou que fazia aulas para passar na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Marcos Scalercio era professor dela. A vítima disse que ele chegou a prometer uma bolsa de pós-graduação e permitia que ela assistisse às audiências dele, como forma de ter horas extracurriculares na faculdade.
Certo dia, conforme a mulher, ele a teria chamado para almoçar e foram no carro dele. No entanto, ele teria desviado o caminho até um motel. Quando ela tentou sair do carro, o juiz tentou agarrá-la à força, segundo a denúncia.
Enquanto agarrava a vítima à força, o juiz teria falado frases como: “A parte mais frágil daqui é você”; “Fica quietinha que eu sei que você quer”; “Sei onde você mora”; “Toma cuidado com o que você vai fazer”.
Ela disse que se sentiu ameaçada e ficou com medo de ser morta. Ela teria pedido para o juiz pelo menos usar preservativo, mas ele não usou. “Ele me jogou de bruços na cama, fiquei quieta, fechei os olhos e esperei”, contou a advogada.
DENÚNCIA UNILATERAL
A defesa do juiz diz que Marcos Scalercio é “um profissional de reconhecida competência e ilibada conduta pessoal, quer seja no âmbito acadêmico, quer seja no exercício da judicatura”.
Os advogados do juiz ainda afirmaram que o caso da advogada “se trata de denúncia que, a rigor, foi feita de maneira unilateral, cujo conteúdo é absolutamente desconhecido do magistrado até agora”.