O Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR) determinou nesta quinta-feira (31) a suspensão, em caráter liminar, das investigações a respeito do suposto envolvimento do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Samir Xaud, em um esquema eleitoral no estado. Xaud havia sido alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) na última quarta-feira (30), motivada por um áudio em que ele é mencionado por um dos investigados.
O desembargador Jésus Nascimento, relator do caso, determinou a interrupção da apuração até o julgamento do mérito do pedido de habeas corpus apresentado pelos advogados de Xaud. Segundo o magistrado, os elementos apresentados até o momento são insuficientes para justificar a inclusão de Xaud como alvo de investigação.
“Sei de onde eu vim, sei quem eu sou e mantive a tranquilidade nos últimos dias, apesar da injustiça cometida e da grave exposição negativa da minha imagem. Seguirei trabalhando com foco, fé e honestidade em prol do futebol brasileiro“, declarou Samir Xaud, por meio de comunicado da CBF.
ÁUDIO SOB ANÁLISE
O juiz Ângelo Augusto Mendes, da 5ª Zona Eleitoral de Roraima, autorizou as buscas da PF em endereços de Xaud no estado e na sede da CBF, no Rio de Janeiro, que ocorreram na quarta-feira. A decisão de Mendes baseou-se em um áudio obtido pela Polícia Federal. Na gravação, Renildo Lima, candidato a vereador, diz à sua mulher, a deputada federal Helena da Asatur (MDB-RR), que Xaud conseguiria votos para eles.
O áudio em questão diz: “Agora nós estamos mais fortes, graças a Deus, porque eu e Helena tivemos o cuidado de colocar nas superintendências políticos que já foram testados nas urnas e bem votados. Por exemplo, o Samir [Xaud] teve 5.000 votos, então, o pedido dele, pelo menos 500 ele consegue“.
Segundo Mendes, a polícia interpretou que a mensagem revela que Xaud foi nomeado estrategicamente para um cargo de direção partidária e utilizado para captação de votos em benefício do grupo. A conclusão foi tirada, de acordo com o juiz, porque a frase de Renildo sugere que suas indicações seriam revertidas em votos para os candidatos aliados. Essa atitude, aponta a decisão, indica possível utilização de função pública para favorecimento eleitoral, conduta que configura abuso de poder político e captação ilícita de sufrágio.
INVESTIGAÇÃO
Em sua decisão, o desembargador Jésus Nascimento afirmou que Xaud foi apenas citado, sem qualquer vinculação a supostos delitos. Para ele, a manutenção da investigação pode levar à exposição de informações relativas a Xaud sem lastro em provas colhidas no inquérito, “acarretando-lhe prejuízo de difícil reparação“.
O Ministério Público do Estado de Roraima já havia se manifestado contrariamente às determinações pedidas pela PF contra Xaud, por também não encontrar indícios concretos ou individualizados de sua vinculação ao suposto esquema eleitoral.
A investigação da Polícia Federal começou após a apreensão de R$ 500 mil, em setembro de 2024, às vésperas das eleições municipais. O valor foi encontrado na cueca de Renildo, durante a campanha. Ao todo, foram determinados dez mandados de busca e apreensão nos estados de Roraima e Rio de Janeiro, além do bloqueio judicial de mais de R$ 10 milhões nas contas dos investigados.