O Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu nesta quarta-feira (7) o professor Lawrence Lessig, da Faculdade de Direito de Harvard (EUA), para uma palestra sobre democracia e inteligência artificial, a convite do presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso.
Lessig chamou a atenção para o impacto da inteligência artificial nas democracias, citando como exemplo a eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos. Segundo ele, a disseminação de desinformação por meio de sites falsos, bots e influência estrangeira interferiu diretamente nas decisões dos eleitores. “A eleição de 2024 foi a última eleição humana dos Estados Unidos”, afirmou.
O professor afirma que o uso da IA por redes sociais intensifica o engajamento dos usuários e alimenta um modelo de negócios voltado à monetização, o que acirra a polarização e compromete o processo democrático. “A política do ódio gera mais engajamento”, disse.
Para Lessig, o modelo econômico das plataformas digitais, baseado em algoritmos e inteligência artificial, pode colocar a democracia global em risco. Ele questiona se os ganhos financeiros justificam os custos sociais e defende que uma das respostas possíveis seria a regulamentação desses modelos. Outra solução seria a criação de assembleias de cidadãos como instrumento de deliberação democrática. “Fomos invadidos pela IA e temos que mudar nossa democracia para um lugar protegido”, afirmou, lembrando que a capacidade humana de deliberar coletivamente levou milhares de anos para se desenvolver.
Lessig elogiou o Brasil por sua resposta rápida na defesa da democracia, mas alertou que o país pode enfrentar novos desafios com o avanço das tecnologias.
O ministro Barroso reforçou a importância da fala do professor e destacou os perigos reais que a democracia enfrenta. “Essa é a grande encruzilhada da civilização contemporânea. Houve uma imensa perda da civilidade, da importância da verdade, e um certo desprezo pelas instituições de conhecimento”, disse.
Barroso também lembrou que os problemas da democracia são anteriores às redes sociais e apontou o desafio de resgatar a razão em um mundo dominado por emoções incentivadas pelas redes sociais e por crenças que ignoram os fatos.