Um adolescente utilizando uma faca causou três vítimas dentro da Escola Adventista em Manaus (AM). Comoção geral, julgamentos. Seria apenas um fato gerador de notícias e atitude a ser condenado pelo olhar superficial da Sociedade de um modo geral. Assim, as redes sociais explodiram com a troca de informações sobre o caso e, muitos desejando estar à frente na divulgação de informações, compartilharam fotos dos envolvidos.
Vamos lembrar que não cabe a ninguém expor e divulgar fotos de adolescentes sob nenhuma justificativa. O artigo 17 do ECA afirma que “o direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”.
Avaliando a situação convido a uma análise um pouco mais profunda de um fato que não acontece isoladamente e onde podem ser detectadas várias vítimas (incluindo o adolescente com a faca, que entendo deverá responder na forma da Lei).
Essa análise trata-se de um trabalho integrado e amplo de toda a sociedade, mas certamente TEM QUE COMEÇAR DENTRO DE CASA, com o exemplo dos pais e responsáveis!
As instituições de ensino precisam SIM interferir na dinâmica das famílias notadamente disfuncionais, quando o problema de casa chega ao ambiente escolar!
É o momento de avaliar e verificar a raiz de problemas como o Bullying, o excesso de exposição à Internet sem fiscalização parental, o exercício da parentalidade responsável, atenta e participativa e a negação familiar da necessidade de atendimento psicológico ou psiquiátrico de crianças e adolescentes vulneráveis a grandes movimentos extremistas dentro do cyber espaço.
Cuidado com o tempo que seu filho passa jogando videogame e em jogos on line. Leiam sobre o efeito Copycat, quando um individuo já perturbado emocional e psicologicamente, e desjaustado socialmente, imita a ação criminosa de um primeiro elemento. Temos também o Transtorno do Jogo pela Internet, um uso excessivo que atrapalha outras áreas da vida da criança ou adolescente.
Uma dica é observar cadernos, limitar acesso ao computador e redes sociais, saber com quem seus filhos conversam, dialogar com eles sobre o dia a dia da escola. Tudo dá trabalho, mas é obrigação dos pais e responsáveis!
Imagina a soma do Bullying+Chats de Jogos on line como nitroglicerina mental pura. É esse o “dark” espaço, ambientes onde jovens negligenciados pela sociedade se sentem acolhidos e são recrutados por grupos com ideias extremistas e neonazistas que “suprem” o acolhimento e a atenção que deveria ser dados pela família.
Um estudo elaborado pela antropóloga Adriana Dias, células de grupos neonazistas cresceram cerca de 270% no Brasil, entre janeiro de 2019 a maio de 2021. Foi noticiado que tais células nazistas “se espalharam por todas as regiões do país, impulsionadas pelos discursos de ódio e extremistas contra as minorias representativas, amparados pela falta de punição”.
Em artigo opinativo, a advogada criminal Juliana França David reflete que as redes e plataformas digitais são local de extrema facilidade de disseminação das mais variadas ideologias, principalmente de grupos extremistas visando recrutas para a próxima geração. O ódio é um conteúdo de fácil assimilação, principalmente quando é apresentado em um ambiente acolhedor para jovens incompreendidos. “Em sua dimensão mais violenta, estes grupos fomentam e auxiliam ataques como os de Vila Sônia, Suzano, etc. Porém, não raros são os casos em que ativistas progressistas são perseguidos por estes grupos, recebendo dúzias de ataques digitais e ameaças”.
Mas como meu filho tem acesso a isso? Vocês já ouviu a palavra “Discord” em alguma conversa de seu filho? Refiro-me a uma plataforma que permite a criação de “pocket universes” virtuais (ambientes de comunidade auto-contidos). Essa plataforma conecta o usuário a pessoas em todo o planeta de forma altamente interativa e alheia à segurança digital, pois as interações entre os grupos criadas dentro dos servidores espalhados por vários países podem ser deletadas sem deixar rastros dos tais fóruns on-line. Assim, Juliana David chama atenção para a necessidade de “atuação especializada em cibercrimes e organizações extremistas”.
Cuidemos AGORA de nossos filhos para que eles não sejam presa fácil para grupos extremistas. Onde há exercício da responsabilidade parental, atuação convergente entre escola e família, controle do acesso às ferramentas tecnológicas com filtros parentais de conteúdo por idade, não há espaço para interferência de terceiros na formação de nossos filhos.
As crianças e adolescentes são sempre vítimas, estejam na posição em que estiverem são seres em formação sob a responsabilidade de toda a sociedade nos termos do art 227 da Constituição Federal.
Referência:
O que nos falta aprender sobre atentados escolares em tempos digitais (https://www.conjur.com.br/2023-abr-05/juliana-david-falta-aprender-atentados-escolares)
Luiza Simonetti, advogada familiarista e especialista em direitos das Crianças e Adolescentes