Ela poderia ser mais uma Maria entre milhares na sociedade brasileira ou mais uma mulher que sofre com o patriarcado e é vítima de todos os tipos de abuso, mas a função de juíza de Direito e a descoberta do seu propósito de vida a transformaram em uma voz importante no enfrentamento a violência contra a mulher.
Essa é Maria Consentino, de 53 anos, dos quais 22 deles dedicados à magistratura. À frente do 1º Juizado de Violência Doméstica contra a Mulher de Belo Horizonte (MG), Maria Consentino tem como lema “ser uma mulher que luta pela outra” e tem hoje seu trabalho reconhecido em todo o Brasil após um dos seus vídeos viralizar na redes sociais onde ela aparece trocando uma vestido pela toga com uma mensagem de otimismo e empoderamento: “Acredite em você”.
Em conversa com a JuriNews, Maria Consentino diz que viu sua responsabilidade aumentar ainda mais desde que seu vídeo viralizou na semana passada e não pode ter medo e se calar diante da importância da mensagem que transmite na intenet.
“Amo ser juíza, respeito minha toga, tenho muito orgulho dela e da pessoa que me tornei. Sou magistrada há 22 anos e sempre atuei com lisura e retidão em meus atos. Ser juiz traz um estigma muito grande, somos julgados antes de julgar, mas somos humanos e acessíveis. Quando postei o vídeo sabia o que estava fazendo, não é apenas um vídeo de uma juíza dançando, tenho sempre uma mensagem por trás de tudo que faço e esse é um trabalho que venho fazendo na internet há algum tempo. Considero meu instagram como um serviço social e tenho alcançado muito mais mulheres”, destaca.
A magistrada relembra que seu processo de despertar ocorreu quando passou a sentir na alma os relatos diários de mulheres. “Sou juíza da violência contra a mulher há quatro anos e meio e meu despertar começou quando comecei a ouvir e analisar todos os tipos de violência que as mulheres sofrem com o sistema patriarcal e cultura machista que é naturalizada na nossa sociedade”.
Ela conta que ao descobrir seu propósito de vida, que é levar esse despertar para um maior número de pessoas, passou a utilizar a internet para divulgar a mensagem. “Na quarentena comecei a usar mais a internet quando vi que as subnotificações ficaram claras porque o número de processos diminuiu radicalmente, o que mostra que as mulheres ficaram caladas e em silêncio, sem poderem sair de suas casas, então decidi expandir e compartilhar meus conhecimentos através das redes sociais com mensagens de fortalecimento e de despertar para mulheres e também homens que sofrem com a cultura machista”, diz Maria Consentino.
A juíza se mostra convicta do seu importante papel na sociedade e nas redes sociais e é indiferente as críticas. “Como juíza a crítica faz parte da minha vida, não sou uma juíza feminista dentro da minha função, sou imparcial, sempre ouço com muita atenção os requeridos mas sempre vou desagradar alguém devido minha atuação judicante e agora não será diferente quando uso a internet para ajudar a descontruir o patriacardo, o sexismo, o relacionamento abusivo. Não vou me calar. Precisamos despertar a sociedade e o Judiciário tem que ser mais sensível, mais humano e a internet também serve para isso”.
Citando a frase da escritora e feminista Simone Beauvoir: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”, Maria Consentino ressalta avanços significativos após a Lei Maria da Penha – prestes a completar 15 anos de vigência – mas reconhece o longo caminho a ser percorrido no país para assegurar os direitos das mulheres e diz que seguirá em frente na missão que abraçou.
“Sonho com uma sociedade mais igualitária e mais justa e vou continuar sendo voz para desconstruir as barreiras impostas pelo patriarcado e pela cultura machista no Brasil. Sou muito espontânea e tenho um espírito inovador. Essa mensagem arde dentro de mim e sempre sigo meu coração”. E conclui inspirando mais uma vez: “Seja você, busque sua essência e tenha uma missão”.
Veja abaixo o vídeo que viralizou:
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